Reportagem publicada em 10/06/2012, na REVISTA ELETRÔNICA DE
JORNALISMO CIENTÍFICO. Versão na íntegra no link: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=79&id=977.
A
importância da preservação dos acervos digitais
Por Marta Avancini
10/06/2012
10/06/2012
Num cenário em que o papel
parece perder, progressivamente, prestígio para os meios digitais, surge uma
questão fundamental à luz da necessidade de manutenção da memória do
conhecimento produzido pela sociedade: a preservação dos arquivos. Cada vez
mais, editoras científicas, arquivos, bibliotecas e centros de informação estão
optando por utilizar a internet, bancos de dados e mídias como CDs, DVDs e blue
rays para armazenar conteúdos novos e acervos antigos. Por um lado, não existem
muitas dúvidas sobre as vantagens das publicações digitais mas, por outro, o
desafio que se coloca é o da preservação do conhecimento produzido e difundido
em meios digitais.
“A migração das publicações em
papel para os meios digitais é um fato comprovado”, afirma Miguél Ángel
Arellano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (Ibict) e doutorando em ciências da informação na Universidade de
Brasília (UnB). “No Ibict, é crescente o número de periódicos que procuram o
registro de ISSN para a versão eletrônica de uma publicação já existente em
formato impresso”.
São várias as vantagens das
publicações eletrônicas, especialmente a possibilidade de administração online
dos processos de submissão, avaliação e publicação imediata de números
anteriores e a produção de novas edições. No Sistema Eletrônico de Editoração
de Revistas, por exemplo, um aplicativo online desenvolvido pelo Ibict para
pesquisadores criarem e publicarem revistas científicas eletrônicas, já há 1,3
mil revistas científicas eletrônicas cadastradas.
Um segundo aspecto positivo que
costuma ser associado às publicações digitais é a ampliação e a diversificação
das possibilidades de produção, difusão e acesso a informações. “A publicação
em meio digital, se de livre acesso, sem dúvida é mais democrática, mais fácil
de intercambiar e disseminar o conhecimento”, analisa a coordenadora da
Biblioteca Nacional Digital, Ângela Bettencourt. A BN Digital, como é
conhecida, disponibiliza na internet 25 mil itens (ou 5 milhões de páginas).
Com a iniciativa, o público em geral passou a ter acesso, via internet, a parte
do acervo de uma das mais importantes bibliotecas do país.
As vantagens das publicações
digitais podem, entretanto, cair por terra se não forem tomados cuidados a fim
de assegurar sua preservação indefinidamente ao longo do tempo, de modo que as
futuras gerações tenham acesso à chamada memória digital. Na opinião de
Humberto Innarelli, pesquisador e analista de desenvolvimento de sistemas do
Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esse é
um dos principais riscos que corremos com a disseminação das novas tecnologias
de informação e comunicação.
Os novos equipamentos e o
processo de automação da informação gerada por eles fazem com que documentos
digitais sejam perdidos com a mesma facilidade com que são gerados. “Essa perda
pode deixar uma lacuna histórica e cultural”, alerta Innarelli no artigo “Preservação digital: a influência da
gestão dos documentos na preservação da informação e da cultura”, publicado na Revista Digital de Biblioteconomia
e Ciência da Informação.
Vários fatores podem acarretar
na perda da documentação digital, contrariando a crença de que ela estaria
livre dos mesmos problemas a que a documentação convencional está sujeita –
acondicionamento, degradação do suporte, obsolescência dos equipamentos, falta
de confiabilidade e espaço de armazenamento.
Mas é preciso ter em mente que a preservação em
meio digital não é necessariamente mais confiável do que as técnicas
tradicionais de preservação; ao contrário, envolve tantas fragilidades quanto
os meios convencionais de registro, como o papel. Por isso, Innarelli enfatiza
a importância da gestão na preservação – a seleção, a organização dos
documentos digitais, assim como a manutenção periódica dos arquivos e a
formação de pessoal técnico especializado para manipular esse material.
Em meio aos desafios e às
complexidades, em várias partes do mundo estão sendo desenvolvidas iniciativas
e estratégias para evitar a perda do material produzido e/ou armazenado em meio
digital. Um exemplo é a cooperativa Meta Archive, que utiliza a ferramenta Lockss
e reúne 50 instituições de quatro países, inclusive o Brasil, com a
participação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
No entanto, como a velocidade
de produção de arquivos digitais é mais intensa do que o desenvolvimento de projetos
de preservação e como os desafios no campo do financiamento e da gestão são
grandes, a prática mais comum nas instituições tem sido adotar medidas para
postergar a vida útil dos arquivos digitais. “Apenas grandes instituições têm
capacidade para manter um projeto de preservação digital de longo prazo”, diz
Arellano.
No Canadá, na Austrália e na
Europa, também existem ações como a Meta Archive, voltadas para a preservação
dos acervos digitais. “O Brasil está bem posicionado no cenário internacional. O
país acompanha de perto das iniciativas de outros países e, aos poucos, começa
a se difundir uma conscientização sobre a importância da preservação dos
arquivos digitais”, analisa Innarelli, da Unicamp.
Comentários
Com base nessa reportagem, nos textos de Lopez, Duranti,
Ruipérez, e com base na palestra do Leonardo, que a temática ”Documentos digitais”,
não somente é um tema bastante atual, como é gerador de discussões e
controvérsias, tanto no meio acadêmico, como na sociedade. Os documentos
digitais trazem problemas de adaptação da teoria arquivística com a realidade
contemporânea e com a tecnologia crescente. Seja para a Diplomática, seja para
a Preservação e Conservação, o surgimento desse novo suporte – suporte digital –
tem suscitado uma série de problemáticas.
Uma delas é a questão da confiabilidade, tratada na reportagem e na
palestra do Leonardo. Até que ponto, podemos garantir que o documento digital
não foi adulterado e modificado. Quais requisitos legais e operacionais devem
estar presentes em um documento digital para que ele possa ser considerado
confiável.
Outro ponto importante que também aparece na reportagem e é tratada na
palestra do Leonardo com sendo um sendo um pré requisito para a confiabilidade
de um documento digital, é a presença de uma quantidade razoável de metadados.
São esses metadados que garantem que o documento digital não vá se perder com o
passar dos anos.
Um terceiro ponto relacionado com a conservação desses documentos é a
questão da caducidade da tecnologia para processamento e visualização desses
documentos digitais. Como garantir que os documentos poderão ser consultados
com o decorrer de cinquenta anos? Isso é um grande desafio, que assim como os
listados acima, se tornam parte integrante da vida profissional e acadêmica do
profissional de arquivologia do século XXI.