sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Atividade "Documentos Digitais"



Reportagem publicada em 10/06/2012, na REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO. Versão na íntegra no link: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=79&id=977.
A importância da preservação dos acervos digitais
Por Marta Avancini 
10/06/2012

Num cenário em que o papel parece perder, progressivamente, prestígio para os meios digitais, surge uma questão fundamental à luz da necessidade de manutenção da memória do conhecimento produzido pela sociedade: a preservação dos arquivos. Cada vez mais, editoras científicas, arquivos, bibliotecas e centros de informação estão optando por utilizar a internet, bancos de dados e mídias como CDs, DVDs e blue rays para armazenar conteúdos novos e acervos antigos. Por um lado, não existem muitas dúvidas sobre as vantagens das publicações digitais mas, por outro, o desafio que se coloca é o da preservação do conhecimento produzido e difundido em meios digitais.
“A migração das publicações em papel para os meios digitais é um fato comprovado”, afirma Miguél Ángel Arellano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e doutorando em ciências da informação na Universidade de Brasília (UnB). “No Ibict, é crescente o número de periódicos que procuram o registro de ISSN para a versão eletrônica de uma publicação já existente em formato impresso”.
São várias as vantagens das publicações eletrônicas, especialmente a possibilidade de administração online dos processos de submissão, avaliação e publicação imediata de números anteriores e a produção de novas edições. No Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas, por exemplo, um aplicativo online desenvolvido pelo Ibict para pesquisadores criarem e publicarem revistas científicas eletrônicas, já há 1,3 mil revistas científicas eletrônicas cadastradas.
Um segundo aspecto positivo que costuma ser associado às publicações digitais é a ampliação e a diversificação das possibilidades de produção, difusão e acesso a informações. “A publicação em meio digital, se de livre acesso, sem dúvida é mais democrática, mais fácil de intercambiar e disseminar o conhecimento”, analisa a coordenadora da Biblioteca Nacional Digital, Ângela Bettencourt. A BN Digital, como é conhecida, disponibiliza na internet 25 mil itens (ou 5 milhões de páginas). Com a iniciativa, o público em geral passou a ter acesso, via internet, a parte do acervo de uma das mais importantes bibliotecas do país.
As vantagens das publicações digitais podem, entretanto, cair por terra se não forem tomados cuidados a fim de assegurar sua preservação indefinidamente ao longo do tempo, de modo que as futuras gerações tenham acesso à chamada memória digital. Na opinião de Humberto Innarelli, pesquisador e analista de desenvolvimento de sistemas do Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esse é um dos principais riscos que corremos com a disseminação das novas tecnologias de informação e comunicação.
Os novos equipamentos e o processo de automação da informação gerada por eles fazem com que documentos digitais sejam perdidos com a mesma facilidade com que são gerados. “Essa perda pode deixar uma lacuna histórica e cultural”, alerta Innarelli no artigo “Preservação digital: a influência da gestão dos documentos na preservação da informação e da cultura”, publicado na Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Vários fatores podem acarretar na perda da documentação digital, contrariando a crença de que ela estaria livre dos mesmos problemas a que a documentação convencional está sujeita – acondicionamento, degradação do suporte, obsolescência dos equipamentos, falta de confiabilidade e espaço de armazenamento.
Mas é preciso ter em mente que a preservação em meio digital não é necessariamente mais confiável do que as técnicas tradicionais de preservação; ao contrário, envolve tantas fragilidades quanto os meios convencionais de registro, como o papel. Por isso, Innarelli enfatiza a importância da gestão na preservação – a seleção, a organização dos documentos digitais, assim como a manutenção periódica dos arquivos e a formação de pessoal técnico especializado para manipular esse material.
Em meio aos desafios e às complexidades, em várias partes do mundo estão sendo desenvolvidas iniciativas e estratégias para evitar a perda do material produzido e/ou armazenado em meio digital. Um exemplo é a cooperativa Meta Archive, que utiliza a ferramenta Lockss e reúne 50 instituições de quatro países, inclusive o Brasil, com a participação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
No entanto, como a velocidade de produção de arquivos digitais é mais intensa do que o desenvolvimento de projetos de preservação e como os desafios no campo do financiamento e da gestão são grandes, a prática mais comum nas instituições tem sido adotar medidas para postergar a vida útil dos arquivos digitais. “Apenas grandes instituições têm capacidade para manter um projeto de preservação digital de longo prazo”, diz Arellano.
No Canadá, na Austrália e na Europa, também existem ações como a Meta Archive, voltadas para a preservação dos acervos digitais. “O Brasil está bem posicionado no cenário internacional. O país acompanha de perto das iniciativas de outros países e, aos poucos, começa a se difundir uma conscientização sobre a importância da preservação dos arquivos digitais”, analisa Innarelli, da Unicamp.

Comentários

Com base nessa reportagem, nos textos de Lopez, Duranti, Ruipérez, e com base na palestra do Leonardo, que a temática ”Documentos digitais”, não somente é um tema bastante atual, como é gerador de discussões e controvérsias, tanto no meio acadêmico, como na sociedade. Os documentos digitais trazem problemas de adaptação da teoria arquivística com a realidade contemporânea e com a tecnologia crescente. Seja para a Diplomática, seja para a Preservação e Conservação, o surgimento desse novo suporte – suporte digital – tem suscitado uma série de problemáticas.

Uma delas é a questão da confiabilidade, tratada na reportagem e na palestra do Leonardo. Até que ponto, podemos garantir que o documento digital não foi adulterado e modificado. Quais requisitos legais e operacionais devem estar presentes em um documento digital para que ele possa ser considerado confiável.

Outro ponto importante que também aparece na reportagem e é tratada na palestra do Leonardo com sendo um sendo um pré requisito para a confiabilidade de um documento digital, é a presença de uma quantidade razoável de metadados. São esses metadados que garantem que o documento digital não vá se perder com o passar dos anos.

Um terceiro ponto relacionado com a conservação desses documentos é a questão da caducidade da tecnologia para processamento e visualização desses documentos digitais. Como garantir que os documentos poderão ser consultados com o decorrer de cinquenta anos? Isso é um grande desafio, que assim como os listados acima, se tornam parte integrante da vida profissional e acadêmica do profissional de arquivologia do século XXI.